Com que rosto ela virá?

Douglas
1 min readMar 7, 2021

Vagueio na solidão constante do meu quarto há dias. Domingo, segunda-feira, sábado, quinta-feira, não importa, são todos os mesmos. Dia e noite não se distinguem, cortinas, tudo é escuro onde a luz do sol não pode chegar.

Vagueio por entre meus livros, o correr dos dedos nas folhas me torna uma massa inerte de mero sentimentalismo barato. Nunca estou sozinho, minha sombra está ao meu lado, fiel, a única capaz de estar por perto de tamanha putrefação do espírito humano.

Questionamentos antes tão importantes, “por que eu? meu propósito é sofrer? quando será meu fim?” se tornaram banais. Quem tem tempo demais não tem tempo para nada. A massiva ociosidade do desânimo me corroeu. Me olho no espelho e não me reconheço, esse corpo é uma representação do sofrimento que eu não quero ver, o que eu me tornarei? Eu deveria temer a morte? Desde quando isso é estar vivo?

Quando o velho cantor baiano diz “A morte, surda, caminha ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar.” sente o mesmo que eu, a angústia por não saber quando Ela vem. Eu a desejo, e como a desejo.

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Douglas

A revolução, como possessão do homem que lança sua vida rumo a uma ideia, é o mais alto astral do misticismo.